Quando o “tratamento” parece não ter fim
Assisto em meus atendimentos um momento que chamo de “limite do limite” nos pacientes que acompanho. A impressão que tenho é de uma caixa d’água que vai enchendo em conta-gotas até que estoura.
Uma gota pode ser aquele novo medicamento e seus sintomas indesejados, uma viagem na qual todos foram menos você ou a simples ansiedade por mais uma cirurgia. Quando estamos adoecidos não sabemos ao certo o que vai se passar, mas apenas que seremos palco de muitas tentativas médicas até que se encontre as causas, a cura ou os dois.
Assim também, nesses tempos, estamos todos navegando nessas águas incertas, de uma vacina incerta, de uma cura incerta e, mais assustador ainda, de uma vida pessoal e profissional muitas vezes incertas também.
Depois de 3 meses de isolamento, nos vejo coletivamente chegando no “limite do limite” que meus pacientes chegam. Nesse lugar, o subconsciente joga um papel poderoso. Há um cansaço persistente por desejar uma vida sem limites e ser submetido a tantas restrições – alimentares, de movimento, de circulação, convivência e sono, dentre outras – que passamos a nos fartar de viver com limitações. Nesse lugar, surgem o que chamo de “estratégias trágicas” para suprir a necessidade da liberdade perdida.
São os pacientes que abandonam tratamentos, desobedecem dietas e fazem exatamente aquilo que foram por inúmeras vezes recomendados a não fazer. Parece loucura né? Mas é uma reação comum que expressemos nossas necessidades por comportamentos que parecem ser nada razoáveis.
Quando ligo a TV e vejo milhares de pessoas nas ruas, muitas com as máscaras no queixo e sem cuidado algum de distanciamento, me lembro desses pacientes que chegaram no “limite do limite” e apresentaram uma resposta trágica a sua necessidade de voltar a viver uma vida plena e sem limitações.
Viver sem limitações é bom, mas quando a vida está em jogo, pode custar muito caro!
Como fazer diante de casos assim?
Ajudo meus clientes a olharem o “copo meio cheio”. Já me explico. Sabe aquela história do sujeito que mostra um copo com água pela metade para dois amigos. Um diz que vê um copo meio cheio de água. O outro, vê um copo meio vazio. Repara que o copo é o mesmo. O que muda é onde está a atenção de quem observa.
Algumas pessoas naturalmente tem esse poder de manter o olhar na parte cheia do copo, outras logo se viram para a parte vazia e passam a gastar um bocado de energia lamentando a perda da água que se foi.
O olhar sobre a parte vazia do copo não colabora para a melhora de sua saúde!
É na parte cheia do copo que vemos um campo de possibilidades. No vídeo a seguir, temos um bom exemplo de uma paciente que escolheu olhar o lado do copo que estava cheio. Ela perdeu um dos braços num acidente e no vídeo conta que a primeira coisa que fez depois que percebeu que havia perdido um dos braços foi beijar sua mão do outro braço. Vale a pena assistir!
Como é pra você, em meio a tudo que se passa, olhar o lado de sua vida que está “meio cheio”?
Convido você a olhar esse lado e anotar numa folha de papel onde estão seus campos de possibilidades presentes e a se perguntar sobre o valor da vida. Perder a vida, isto sim lhe coloca num copo vazio.
E quando perceber que seu campo de possibilidades está com espaços inexplorados de uma nova forma de conviver, de trabalhar, de encontrar seu ganha-pão, de se cuidar, de amar, aí talvez você se poupe de saídas trágicas para encontrar sua antiga liberdade e escolha usufruir do seu novo campo de liberdade.
Ele não é igual ao anterior, mas lhe garanto que está “meio cheio”.
Abraço virtual,
Luciane Schutte
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