Daqui três anos poderei estacionar em vaga de idosos! Vou de certeza achar bom chegar naquelas ruas lotadas das cidades grandes e usufruir um dos muitos prazeres do envelhecimento – ter onde estacionar!
-“Muitos prazeres???? Mas envelhecer não é sinônimo de sofrer?”
Bom, eu diria que viver inclui sofrer! Envelhecer significa, pois, que você viveu muito tempo e, se está vivo, sim algum sofrimento faz parte deste como de qualquer outro momento de sua vida jovem. Mas será que é só sofrimento?
Esse assunto me lembra uma frase de um vídeo da Dra Ana Cláudia Quintana Arantes, autora do Livro “Morrer é um dia que vale a pena ser vivido”, onde ela diz algo como “se você não quer envelhecer, morra jovem”. O contrário de não envelhecer, portanto, não é viver sem envelhecer. O contrário de envelhecer é morrer cedo.
Ocorre que com o aumento da perspectiva de vida, temos mais chances de envelhecer do que nas gerações anteriores. Mas como envelhecer “bem”? Com mais prazer e menos sofrimento? Ou ainda, como envelhecer mais lentamente. 😉
Acho que não há fórmula mágica. Cada um vai ter a sua caminhada e de seu modo único. Posso falar, portanto, um pouco de como tenho “envelhecido lentamente”. Até o momento, dizem que estou envelhecendo “bem” (veja se a foto recente convence!). Não tenho cabelos brancos ainda, o que considero lamentável pois cabelos brancos dão testemunho de algum aprendizado. Talvez por isto eu me sinta ainda uma aprendiz.
Suspeito que aqueles que se apropriam de seus cabelos brancos como um não-tenho-mais-o-que-aprender envelhecem. Desconfio que este planeta é uma grande escola e enquanto não soubermos o que viemos de alguma forma aprender, não “passamos de ano”.
Quando falava isto pra minha mãe, perto de seus 86 anos, ela me vinha com a resposta “Então eu quero viver burra!”. 🙂 Minha mãe não queria morrer e, mesmo adoecida, barganhava com Deus um tempo a mais de vida. Mas quando a ouvia resmungando que queria “viver burra”, sabia que ela se referia a ser uma eterna aprendiz. Acho que isto eu “peguei” dela. Enquanto houver vida, estar em busca de aprender algo novo é de certeza combustível pra ir mais longe.
A segunda coisa que acho que contribui para meu “envelhecimento lento” tem a ver com outra coisa que minha mãe falava sempre: “Estou na idade de apertar o botão do F!”. Sim, ela falava palavrão de vez em quando na velhice o que era muito engraçado para uma professora de palavras sempre bem cuidadas. Mas palavrões a parte, a tradução em português poético é “soltar”. Envelhece lentamente quem solta. Há muito soltei – expectativas, medos, mágoas, imagens boas e más de mim mesma, apegos, pessoas, lembranças difíceis do passado, mas principalmente, soltei a idéia de que a vida é controlada por mim. Na verdade, temos muito pouco controle sobre a vida.
O terceiro segredo-de-envelhecer-lentamente também recebo de minha mãe. Hoje em dia ela não se senta mais à nossa mesa. Ela “passou de ano”. Mas eu continuo reunindo família e amigos em torno de mesas fartas como as dela. Cheia de boa comida, um bom vinho e de vez em quando uma sobremesa (que ela adorava). Hoje entendo melhor as mil mensagens de what’s app que ela me mandava no correr do dia com todos os erros de digitação do mundo, figurinhas de bom dia e fake news. Acho que “envelhecer lentamente” tem a ver com amor, conexão ao próximo, tem a ver com sentir-se cuidado e cuidando.
Talvez esses três pontos sejam o segredo do meu “envelhecimento lento”. Devo dizer que é uma escolha e nem sempre fácil de fazer. Quem sabe você faz essa escolha também. Escreve num papel, pendura na parede, ou como uma cliente minha fez, pendurou as escolhas dela na mesa do trabalho, no painel do carro e na penteadeira de forma que em todos os lugares ela se lembrava do que escolheu para viver. Sim, viver, porque não se trata de como vamos envelhecer, pois como disse, não temos tudo sob controle. Se trata de como escolhemos viver.
Faz então um “copia-cola” dessa lista, se ela ressoa em você:
- APRENDER
- SOLTAR
- CONECTAR
Não se tratam de coisas pra fazer de vez em quando. Se trata de coisas presentes a todo momento. Talvez o segredo do “envelhecimento lento” está em simplesmente escolher a vida e tudo de bom e ruim que vem com ela.
Eu já quis morrer. Nunca atentei contra minha vida mas secretamente desejava morrer jovem. Hoje percebo que na verdade desejava o fim de meu sofrimento – físico e mental. Demorei um bom tempo pra lidar melhor com esse sofrimento e escolher a vida. O sofrimento se foi? Não completamente. Pra quem sofre ou sofreu de fibromialgia e transtorno de pânico como eu, saberá do que estou falando.
Estou aqui então para lhe dizer que temos uma escolha. Hoje quando acordo pela manhã eu me sinto grata por um novo dia. No momento que escrevo este post escuto pássaros cantando, vejo o céu avermelhado através da janela e estou cercada pelos meus gatos envolta num cobertor e grata, tremendamente grata por mais este dia.
Talvez tenha então faltado um item importante no meu segredo-de-envelhecer-lentamente…
- GRATIDÃO!
E seguir agradecendo todos os dias, em especial nos dias em que pudermos honrar nossos cabelos brancos e as boas escolhas de toda uma vida.
Abraço apertado,
Luciane Schütte
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