A difícil tarefa de aderir a tratamentos
Há um mês recebi um diagnóstico apontando lesões em vários músculos e articulações. O primeiro impacto foi perceber que atrás de uma avaliação médica há sempre uma reflexão. O que fiz para “merecer” isto? Vida sedentária? Ou sou “inocente” e é apenas a velhice chegando?
Foi aí que me dei conta de uma série de “inimigos invisíveis” que foram surgindo dentro de mim, tal qual um ninho cheio de ratinhos escondidos atrás daquele armário que não nos atrevemos a mover. Aos poucos se revelou que não havia apenas um, mas uma ninhada inteira que no escuro da noite aos poucos boicotaram minha saúde, tirando de mim a possibilidade de envelhecer bem.
O primeiro ratinho se revelou logo depois do diagnóstico. Coloquei o nome dele de “culpa”, porque a culpa, assim como o roedor que come nosso queijo no meio da noite, não resulta em nada a não ser a perda de energia para lidar com o problema em si.
O medo de mexer no ninho é ele mesmo também um ratinho, que nos tira a possibilidade de encarar os fatos como eles são. Fui a outro especialista, as notícias realmente não eram animadoras. Mas me livrei do roedor do medo com minhas perguntas claras ao meu médico.
Aí ouvi aquilo que lá no fundo a gente já sabe: faça exercícios, alongue-se, tome sol e assim por diante. Aquelas coisas que muito provavelmente você já ouviu também. Ora, se todos nós sabemos, porque não seguimos?
Em Medical Coach partimos do princípio que uma ação não se concretizará se não for, antes de mais nada, coerente com nossos valores, emoções e princípios. Lembro de um caso em que um paciente cardíaco não tomava medicamentos corretamente, mesmo colocando sua vida em risco, pois lá no fundo achava que aquilo não era coerente com o homem jovem que ele sentia ser. Numa boa conversa podemos ressignificar o valor da vida acima da juventude e uma nova perspectiva surge. Se viver for mais importante que ser jovem, então talvez medicar-se seja uma escolha pela vida.
Assim foi para esse paciente – escolheu viver ao invés de seguir perseguindo uma ilusória juventude.
Assim é que eu própria me vi na condição parecida com a de meus clientes, me perguntando o que realmente importa. Hoje, me importa menos minha aparência física, mas me importa muito minha independência e mobilidade. Ainda assim fiquei dois meses fugindo da academia depois do diagnóstico. Por quê?
Me dei conta que não basta o fato de que tomar aquele medicamento, fazer aquele exercício ou mudar a hora de dormir tenha a ver com o que é importante pra mim. Hoje reconheço que tem a ver com uma coleção de ratinhos que sorrateiros nos levam para a frente de uma televisão, para um celular ou para simplesmente ir cuidar da casa. Esses ratinhos são nossos velhos hábitos, há tanto tempo moradores da parte de trás de nossos armários que nem nos damos conta de sua presença.
Não há como seguir em frente sem mover os armários para ver o que se encontra atrás!
Ocorre que não é tarefa fácil mover armários. Eles basicamente são feitos das nossas desculpas de sempre – não tenho tempo, dinheiro ou saúde pra isto. Por isto esses ninhos invisíveis são tão difíceis de combater. Colocamos uma isca, deixamos o bichinho comê-la pensando que é um pedaço de queijo e aí enxotamos ele.
Comecei a me livrar de meus ratinhos um a um. Não há como afastar uma ninhada inteira numa só ratoeira. Primeiro me desfiz do ratinho da preguiça, mas não com uma marreta. Assustei o bicho mexendo meu corpo só um pouquinho todos os dias. Não as duas horas de academia que eu deveria estar praticando, mas apenas os 15 minutos nos quais tinha algum prazer. Ele sumiu!
Afastei o ratinho da falta de energia mudando minha alimentação que, antes cheia de carboidratos e açúcares, só me deixava enfastiada e cada vez me sentindo mais pesada diante de qualquer atividade, mesmo a mais trivial como lavar uma louça ou colher as folhas do jardim.
Aprendi que quando encontramos esse ninho de ratinhos dentro da nossa cabeça, quando ter uma casa interna limpa é importante pra nós, o que temos a fazer é simples – mudar uma única pequena coisa de cada vez.
Espero que você tome coragem para mover seus móveis internos e encontrar seus ninhos invisíveis e, quando encontrar, coragem para enfrentar um a um. Espero também que tenha forças para se livrar deles com pequenas estratégias certeiras.
Procure ajuda se ainda assim estiver difícil lidar com sua “ninhada”.
E lembre-se: uma vida saudável não tem preço!!! Está aí um bom motivo para fazer de você um incansável faxineiro.
Luciane Schutte