Nessa nossa situação de quarentena, temos talvez um dos efeitos menos fáceis de se perceber, mas que ainda impacta muito a todos: A quebra dos planos. Todos temos planos, por mais simples que sejam, e eles provavelmente não levavam em conta uma pandemia, quarentena e ainda o risco de lockdown. Por mais que alguns possam seguir em frente, há planos que se baseavam no mundo antes da pandemia, mundo esse que não sabemos quando ou se voltará. Acaba que a perda desses planos é como um luto de algo ao qual estávamos tão ligados que já dávamos como certo. Uma boa forma de entender essa situação é se utilizando dos 5 momentos do luto de Kübler-Ross, que são esses:
Negação
Características: Evitação, Confusão, Choque, Medo
A primeira reação é a de negação. Nesse estágio, tendemos a acreditar que a situação está diagnosticada de forma errada. Assim, tendemos a aceitar sem muita contestação informações que corroboram essa sensação, como “essa pandemia é só politicagem” ou “não é tão sério assim, estão exagerando”. Logo, ficamos presos a uma realidade que talvez não exista mais.
Raiva
Características: Frustração, Irritação, Ansiedade
Outra reação, quando vemos que a situação existe e nos afeta, é a de ficarmos frustrados. Vemos os efeitos do contexto e facilmente nos irritamos e buscamos culpados. “Porque não fizeram nada antes?”, “A culpa é toda do ______”, “Porque isso está acontecendo comigo? Não é justo!”. Muitas vezes essa raiva mascara um sofrimento ligado àquilo que a situação está nos fazendo perder.
Barganha
Características: Busca de significado, Busca por outros, Conto da própria história
Temos também o momento que envolve a esperança de que podemos evitar a causa do luto. Sejam barganhas concretas (“Se eu usar máscara, posso fazer tudo que preciso”) ou abstratas (“Juro que se isso passar logo, nunca mais bebo!”), elas buscam encontrar uma forma de superar a fonte do luto, custe o que custar.
Depressão
Características: Sobrecarga, Desamparo, Fuga
Na depressão, surge o desespero ao perceber que nada está tendo efeito e não surgem muitas esperanças de melhora. Pensamentos como “De que adianta fazer qualquer coisa? Nada nunca mais vai ser como era” ou “Estou tão triste, porque devo me preocupar com qualquer coisa?” são acompanhados de silêncio, tristeza e lentidão.
Aceitação
Características: Busca de opções, Novos planos, Seguir em frente
Nesse momento, nós abraçamos o futuro inevitável. Porém, isso não é a mesma coisa que a desesperança citada anteriormente, não é o abraçar do mastro do navio que afunda. Significa aceitar a realidade como é e agir de acordo em busca de algo positivo.
Conclusões
Note que a aceitação é apenas um dos momentos. Já passamos por negações, raivas e tristezas, que são vivências ruins, porém necessárias, que podem ir e vir a depender da situação. A perda de um plano é a perda de algo próximo e importante a nós, comparável à perda de alguém querido. Não é esperado que qualquer um consiga pular essas partes “ruins” e ir direto para a aceitação plena. Eu argumento inclusive que os piores momentos são tão importantes, se não mais, que esse último. Eles mostram que a dor é real, que realmente estávamos ligados aos nossos planos. Negar essa importância apenas adia o problema.
Porém, a ideia ao trazer esses momentos é mostrar que a raiva, a frustração e a tristeza não são tudo. Elas fazem parte de um processo maior que se encerra em um momento de direcionamento e exploração. “O que esse novo mundo tem para mim? O que posso fazer com o que me é dado?”. Essas perguntas não anulam aquilo que foi vivido e sofrido, mas olham além, para o novo e o possível. Para aquilo que a aceitação e um olhar diferente para o futuro podem nos trazer.
Você está passando por algo parecido? Em que momento diria que está? Como está sendo essa vivência? Conte pra gente!