Sua saúde em tempos de um isolamento que de isolamento não tem nada
Quando começou a quarentena, confesso que uma parte de mim ficou feliz! Pensei: “Agora vou poder arrumar aqueles vasos, limpar aqueles armários…”, enfim, fazer todas aquelas coisas que sempre deixamos pra depois.
Muitos como eu, pensaram a mesma coisa.
No entanto, o isolamento social que era suposto ser um momento de introspecção tem arrastado muitos de nós para um lugar onde falta atenção e foco, dificuldade de realizar tarefas, perda de sono e muitos outros sintomas que, em verdade, são sintomas de um stress crônico. Afinal, basta ligar as notícias dos jornais para estar de alguma forma tocado por tudo que se passa.
Como sou coach para a área médica, contudo, fui convidada pelas circunstâncias a expor meu trabalho nas redes sociais, missão a qual havia me furtado encarar por muito tempo. O que encontrei foi uma enxurrada de dicas, webinários, aulas, vídeos e toda a miríade de soluções mágicas para encarar uma crise. Fiquei espantada com o volume de conteúdo de desenvolvimento represado que à guisa de movimento solidário inundou as redes sociais.
Aplaudi que esse conhecimento tão importante fosse espalhado pelo mundo.
Num segundo momento, contudo, me perguntei o que mais tenho eu a acrescentar aqui e me coloquei no lugar de meus leitores e seguidores e senti um aperto no peito. No lugar desse espectador da enxurrada de aulas de yoga, meditações, fórmulas absolutas, orações e soluções fantásticas, imaginei como estaria se sentindo uma pessoa comum, simplesmente angustiada com tudo que se passa e, no meu caso, em específico as pessoas que eu atendo – que além de estarem doentes tem de encarar as incertezas desse momento – vendo todo esse conteúdo bombardeado todo o tempo.
Só meu ocorreu uma palavra – irritação! Sim, acredito que com todo direito podemos nos permitir ficar irritados com a chuva de informações que, mesmo que postadas com boa intenção, fazem aquele que recebe sentir-se em alguma medida constrangido.
Até que me deparei com o vídeo no Instagram da atriz Ingrid Guimarães que fez desse sentimento um delicioso momento de humor. Vale a pena assistir em @ingridguimaraesoficial !
No vídeo ela fala desse sentimento que sei que toca a muitos de nós, de sentir-se constrangido por sentir. Sim, constrangido por ter medo, angústia e até desespero, porque o mundo na telinha das redes sociais nos apresenta arquétipos de heróis das crises, pessoas que – como a Ingrid descreve em seu vídeo – parecem irreais. E são!
As redes fizeram de nosso isolamento, ao invés de um momento de introspecção, um espaço social invasivo, de uso constante e desmedido.
Para mim, esse contexto retira do usuário dessas tecnologias de interação o espaço de sentir-se simplesmente humano e de sentir-se grande na sua humanidade falha e imperfeita.
Deixamos de nos sentir íntegros com a nossa verdade no turbilhão de emoções que nos toca no dia a dia e que com frequência nos desequilibra. Passamos sim a nos sentir desconectados, pois já se sabe que nosso cérebro não processa a intimidade que temos num encontro presencial da mesma forma que percebe um encontro virtual – onde a tela de videoconferência com vários rostos e menos estímulos sensoriais nos anestesia. Por isto muitas vezes terminamos o dia exaustos, mesmo sem ter saído de casa.
Vulnerabilidade é força!
Sempre digo isso porque o bambu se curva nas tempestades, já as árvores de longos e grossos troncos são arrancadas pela raiz.
Por isso, estou aqui para te convidar a se perdoar por não meditar todo dia, nem fazer exercícios toda hora e por nem sempre comer a melhor comida. Você pode escolher fazer tudo isto sim e recomendo que escolha para o bem da sua saúde, mas siga sem pressa. Siga plantando sementes em vasos. Não precisa arar uma fazenda de 100 hectares. Você dificilmente mudará agora toda a sua vida e todos os seus hábitos de uma hora pra outra. Este é um processo.
Escolha uma pequena coisa pra fazer melhor hoje, uma apenas.
E lembre-se, todos os modelos que nos apresentam as redes sociais são só modelos. A questão é o que você está fazendo hoje bom o suficiente por você e pela sua saúde. Esse passo, esse pequeno passo é o passo possível. Execute-o e celebre!
Ou como a Ingrid Guimarães propõe em seu vídeo, desabafe e depois sim você está pronto para meditar.
Isto é ser humano!
Bj de cotovelo
Luciane Schütte
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