A dor que não aparece para os outros
Hoje assisti ao vídeo da entrevista da Lady Gaga pela Oprah e me emocionei. Essa história conheço de perto. A dor de ter sua vida “roubada” por uma doença que não apresenta nenhuma marca aparente, mas que nos derruba. A fibromialgia é uma delas. Recomendo assistir e, caso não fale inglês, segue aqui alguns pontos importantes tratado por elas.
A saúde mental é hoje considerada uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde. Doenças como a fibromialgia tem uma manifestação física – dores excruciantes no corpo – e uma origem ligada ao cérebro e condições de stress, muitas vezes acompanhados de um quadro de baixa imunidade. Embora a dor esteja no corpo, não é nele que ela se inicia mas no sistema nervoso. Cientistas do mundo inteiro trabalham sobre o tema e a própria Lady Gaga promove essa atuação multidisciplinar em busca de respostas já que é uma doença crônica que cobra uma aceitação “radical” e o que se pode fazer é lidar com ela.
Se você é um desses pacientes ou convive com alguém que sofra de fibromialgia, sabe do que estou falando.
Assim como ela e milhões de pessoas ao redor do mundo vivi durante anos o desafio de lidar com essa doença que embora nos coloque de cama, para quem está de fora, não parece real. Isto porque não há nada visível e para aqueles que convivem com pessoas passando por isso pode ser desafiante entender que é real! A esse quadro chamamos em medical coach de “doenças invisíveis” e o paciente tem de lidar não apenas com o problema em si mas com a dificuldade de quem está à sua volta de lidar com esse contexto.
Qual a solução? Medicamentos para a dor?
Assim como Lady Gaga tive a sorte de ser orientada por profissionais excepcionais que não foram por essa linha e olharam a questão globalmente – meu estilo de vida, sono, exercícios físicos, stress, dentre outros. Minha melhora surgiu de um longo trabalho que envolveu medicamentos que ajudaram meu cérebro a não apresentar essas respostas indesejáveis e de uma mudança profunda de hábitos que culminaram na minha melhora.
Mas não são apenas hábitos que garantem essa cura. Há que se trabalhar o “estado de espírito”. Comecei a reconhecer que meu estado de ânimo era de amargura e tristeza. Precisei de um longo processo de autoconhecimento contando com profissionais, familiares e amigos para aumentar a frequência do que chamo “estado de graça” – aquele em que estamos em gratidão a tudo, até ao que não deu “certo” e generosos com a gente mesmo, com os outros e com o mundo. Um estado de amor.
Além de medicamentos, estilo de vida e estado de ânimo, Lady Gaga nos lembra em sua entrevista que não há sucesso nessa busca da saúde plena sem equilíbrio entre nosso lado pragmático e nosso lado emocional. Isto também de certeza contribuiu para minha melhora, como ela acredita que contribuiu para a dela.
Para que tudo isto dê certo, apoio psiquiátrico e médico é fundamental!
Lembro que parte de ter me submetido a tanta dor sem me tratar e por tantos anos tinha a ver com o fato de que eu mesma não aceitava minha condição “invisível” e não me permitia olhar para ela pelo simples fato de que assim como não era visível para os outros, não era visível para mim.
O primeiro passo é aceitar. Aceitar e procurar a ajuda correta que nos olhe como o sistema complexo que somos.
Procurei muitos médicos que não faziam ideia o que se passava comigo e que literalmente ignoraram minhas reclamações e de certa forma me fizeram acreditar que era “coisa da minha cabeça”. Sim, era coisa da minha cabeça e era uma doença sim. O primeiro médico que me diagnosticou corretamente leu os sintomas depois de fazer um exame em cada articulação do meu corpo e de testar todos os movimentos que eram possíveis com ou sem dor. Leu o que eu sentia mesmo antes de eu descrever a ele. Chorei copiosamente na frente dele, finalmente alguém sabia o que se passava comigo. Foi um alívio e uma grande tristeza ao mesmo tempo.
Hoje me sinto curada. Sei dos gatilhos. Cuido deles. Minha vida física, mental e relacional é muitas vezes melhor e minha “doença invisível” foi apenas o mensageiro de que algo deveria ser modificado. A dor pode ser um mensageiro cruel. Mas se nos abrirmos a ouvir as causas mais profundas e fazermos algo a respeito, acredito que se não curar, podemos ao menos mitigar muitos dos sintomas e reduzir seus efeitos.
Espero que essa mensagem que Lady Gaga está lançando ao redor do mundo alcance milhões e reforce mais uma vez a importância do medicamento correto e do tratamento integrativo e não apenas voltado a redução de sintomas. Uma nova medicina está nascendo e quero aplaudir de pé. Afinal, agora, graças a ela, estou de pé.
Luciane Schütte