Talvez o desejo que eu mais escute de pessoas que atendo é que elas gostariam de poder “controlar as emoções”. É uma vontade completamente compreensível e acredito que todo mundo já a tenha tido alguma vez. Não ter o controle de nossa mente, emoções e pensamentos é uma posição bastante desagradável, quase como se fossemos meros passageiros em nosso corpo. Porém, será que tem de ser assim mesmo?
O que é controlar?
Antes de mais nada, é importante esclarecer que esse controle não acontece da forma que imaginamos e é muitas vezes uma ilusão. Muitas pessoas aparentam ser “controladas” ou ter total autocontrole, mas a experiência nos mostra que isso muitas vezes é uma imagem que a pessoa cria, e não uma real expressão de si mesma. Por mais que para o mundo exterior as coisas aparentem estar bem, no interior estão bem bagunçadas. Logo, passam pela vida sustentando uma imagem que não corresponde a quem realmente são, o que pode ser possível por um tempo, mas não para sempre.
Um bom lugar para entendermos do que se trata esse controle ilusório é vermos como ele se manifesta. Ou seja, como as pessoas que tentam forçar o controle agem para tentar fazer com que ele aconteça. O mais comum é tentarem esse controle em três momentos:
O primeiro se dá antes mesmo de a emoção ocorrer, e talvez seja esse o que a maioria das pessoas almeja. Seria o controle que impediria o próprio sentimento “ruim” de surgir e apenas aqueles agradáveis passariam pelo filtro.
O segundo seria após o surgimento da emoção, em que seríamos capazes de “mandá-la embora” ao bel-prazer. Se vemos que um sentimento está nos trazendo dor, simplesmente apagaríamos ele de nossa mente e continuaríamos com nossa vida.
O terceiro momento seria um controle sobre as manifestações dos sentimentos. Seria como alguém que está com uma raiva imensa, mas consegue agir como se estivesse tudo certo, ou alguém triste que vive como se estivesse feliz.
Todas são formas de controle que desejamos em algum nível. De fato, o sonho da maioria das pessoas é ser capaz de atuar no primeiro momento, evitando assim qualquer sofrimento. Porém são formas muitas vezes utópicas, pois dependem de nossa mente funcionar de uma forma irreal.
Note que não há nada de errado nisso: querer evitar sofrimentos é algo que todos compartilhamos. Porém, devemos dar uma olhada em quão possível é esse desejo de fato.
Qual é a origem dos sentimentos?
Para pensarmos no sonho de conter as emoções na fonte, devemos pensar em qual ela é. De onde elas vêm? Essa é uma pergunta mais difícil do que imaginamos, e olha que já imaginávamos que não era fácil. Há mil caminhos para respondê-la. De um ponto de vista biológico, podemos explicar a atuação do hipotálamo e dos hormônios. De um ponto de vista psicanalítico, poderíamos explicar a partir do impacto de experiências passadas e do inconsciente. De um ponto de vista cognitivo poderíamos ver as crenças, pensamentos e suas relações com o ambiente. E por aí vai.
Ou seja, não é uma pergunta que já foi definitivamente respondida como um todo. Dificilmente encontraríamos uma definição única e universal de sua origem.
Mas por que estou trazendo tudo isso? Principalmente para mostrar que séculos de estudos, filosofias e técnicas ainda não foram capazes de trazer uma boa explicação, um manual do sentir. Trazer uma das explicações citadas seria falar apenas parte da história. E, mesmo aprendendo todas, elas seriam como peças de um quebra-cabeças que não se encaixam perfeitamente. Logo, se querer controlar a origem dos sentimentos já era difícil, fazer isso sem uma explicação universal é quase impossível.
E aí, o que eu faço?
Primeiramente, proponho mudarmos nossa terminologia. Controle, por definição, traz a ideia de domínio sobre alguma coisa. Logo, estamos falando de um termo que nos traz a sensação de absoluto. Ter controle implica fazermos o que bem entendermos com algo. Contudo, como a experiência e estudos passados nos mostram, “controlar” sentimentos é algo impossível.
Logo, penso que seria mais interessante trocarmos a ideia de controle pela ideia de manejo. Ela, por sua vez, traz a ideia de direcionar, manusear, guiar as emoções. Elas não estão ao nosso controle, porém também não são nossas donas. Não há uma relação de subordinação, mas de parceria, pois elas habitam nossa mente tanto quanto nossa consciência.
Isto posto, acho interessante aplicar a ideia do manejo aos momentos que falei acima.
No primeiro, podemos aplicá-la ao pensarmos: Se não posso evitar o surgimento do sentimento, posso tentar manejar suas raízes. Logo, se eu trabalhar aquilo que está por trás do sentimento, posso tornar sua origem menos impactante.
No segundo momento, ao invés de mandarmos a emoção embora como se fosse um empregado sendo demitido, lidaríamos como um irmão que nos incomoda. Ela não vai embora totalmente, pois ainda mora em nossa casa, porém podemos tentar entender o que está nos incomodando, por que ele está tão presente, ou simplesmente ouvi-lo. Raramente damos a chance para ouvir aquele que nos está atrapalhando, seja um irmão ou um sentimento.
No terceiro momento, no lugar de fingir que está tudo certo o tempo todo, podemos conversar com nossos sentimentos e ver como poderíamos criar um momento oportuno pra ele se expressar. Seja num ombro amigo, num hobbie ou num joão-bobo. Ou numa terapia, que é um lugar feito para os sentimentos serem expressos e trabalhados num ambiente saudável. Todo sentimento trás uma mensagem do que é importante pra você.
Conclusão
No momento que nos separamos da ideia do controle das emoções e abraçamos a ideia do manejo, nós vemos que nossos sentimento não estão acima ou abaixo de nós. Eles fazem parte do nossos ser e, portanto, merecem uma relação de respeito e igualdade. Tal qual você ouve alguém que respeita e colabora com um igual, nossas emoções merecem o mesmo tratamento.
O desejo “incontido” do ser humano controlar seus sentimentos. Bom o artigo para uma boa reflexão!!!