O papel da solidariedade na sua saúde
Uma vez li num livro uma narrativa que nunca mais esqueci. Toda vez quando o menino ficava irritado, a mãe mandava ele fazer algo de bom pra alguém. O garoto cortava a grama de um vizinho ou fazia algum outro favor e voltava pra casa em alto astral, como se a solidariedade fosse uma espécie de remédio contra o mau humor. Assim é que encontro com frequência pessoas solidárias ativas e bem humoradas.
Que poder há em ser solidário?
Somos seres sociais. Ajudar o próximo não é algo restrito a santos e bons samaritanos. Se fossemos seres totalmente egoístas, talvez não houvéssemos sobrevivido como espécie. Sobrevivemos porque nos reunimos em grupo e nos ajudamos.
Competição e colaboração conviveram juntas desde sempre.
A sociedade consumista, contudo, trouxe o outro lado, também presente, da competição e em certa medida ficamos confortáveis cuidando de nosso próprio quintal. Agora que vimos que nosso quintal tem o tamanho do mundo e que algo que aconteceu tão longe, lá na China, nos afeta diretamente, nos damos conta do que nossos ancestrais da idade da pedra já sabiam – juntos somos mais fortes. Nos damos conta que nosso quintal vai mais longe do que alcança nosso olhar.
Mas o que isto tem a ver com minha saúde?
Tem a ver com dois aspectos:
1 – Com cuidar do próximo usando máscara, não saindo de casa, evitando aglomerações , pois essas atitudes são o mesmo que cuidar de você mesmo, enquanto cuida do outro ao mesmo tempo;
2 – Em reconhecer que ser solidário faz bem a mente e se faz bem a mente, faz bem ao corpo também.
Quando penso no segundo aspecto, me vem frases que já ouvi dezenas de vezes quando converso com pessoas que participam de projetos sociais – “fez mais bem pra mim do que fez bem ao outro” é o que eu sempre ouço.
Por um motivo muito simples – quando sinto amor, compaixão e reconhecimento meu organismo fica inundado de boas substâncias. A endorfina estará mais presente, sua respiração estará mais profunda, seus músculos mais relaxados, seus pensamentos mais focados.
Experimente! Doar é bom.
E o ideal é doar seu tempo, sua atenção, um cadinho de seus talentos. E mesmo que isso esteja escasso, doe algum dinheiro ou simplesmente passe adiante o que recebeu. Sabe aquele telefonema de um amigo que quiz saber como você anda? Pois é, passe adiante e ligue pra outro amigo e observe seu batimento cardíaco depois de viver essa experiência. Tão simples, né?
E se não houver nada mais que esteja disponível, doe seu sorriso, doe sua escuta empática. Pensamos solidariedade como os grandes feitos ao estilo Madre Teresa de Calcutá, mas solidariedade é algo que pode acontecer ao alcance de suas mãos aqui e agora, até no gesto simples de lavar a louça para ajudar em casa.
Na minha experiência, apoiando pacientes graves a lidar com sua doença, me surpreendi como aqueles com maior chance de superação não estavam voltados unicamente para si mesmos e para suas mazelas. Assim como a Anami (@paliativas) que entrevistei dias atrás, são esses pacientes com resultados mais surpreendentes. Aqueles que se voltaram para o mundo e se recusaram ser prisioneiros de seus próprios dramas.
Por isto, posso afirmar que solidariedade cura, antes de mais nada, a nós mesmos.
Beijo virtual a tod@s,
Luciane Schütte