O papel da mente em processos de cura
Há quem diga que a mente gera realidades. Muitos fazem menção à física quântica e ao que se observa a nível do microcosmo para fazer essa observação. Em nível atômico, a intenção do pesquisador afeta o fenômeno observado.
A partir dessa constatação, filósofos, religiosos e pessoas dedicadas ao desenvolvimento humano em todo o mundo se perguntaram se também num nível macrocósmico nossa intenção alteraria os fenômenos também, impactando acontecimentos e até o próprio corpo. Fazendo valer a máxima – cuidado com o que pensa, pois pode se tornar realidade!
Uma realidade, por sua vez, pode se materializar para o nosso bem-estar ou não.
Não são poucos os relatos de curas inexplicáveis. Quando observamos o que narram esses pacientes que alegam ter vivido milagres de cura, há uma constante em suas estórias – FÉ! Aqui vamos tratar a fé não dentro do contexto religioso, mas da crença naquilo que extrapola o senso comum.
O senso comum trás certezas através de estatísticas – determinados tipos de câncer levam mais a morte, determinadas doenças são incuráveis, o vírus atinge determinado grupo de risco e assim por diante.
No entanto, há sempre pontos fora da “curva”. Qual o segredo desses pontos?
Pessoas que se curam inexplicavelmente, melhoras sem tratamento convencional, dentre outros casos são pontos fora da curva e acontecem a todo momento.
Tenho pra mim que a ciência aqui pode novamente ser invocada, não apenas em alusão a interferência da intenção do observador que afeta a realidade, mas da psiconeuroendocrinoimunologia – uma palavra longa e complexa que significa apenas uma coisa – nossos pensamentos interferem sim no funcionamento do nosso organismo.
Embora seja uma área nova na medicina, já existem vários estudos comprovando que o funcionamento da nossa mente tanto pode ser afetado por algum desequilíbrio no organismo como o contrário.
Nosso organismo pode ser afetado por nossa mente!
A produção de cortisol é chave nesse processo. O stress é um agente determinante no que eu ouso chamar de “envenenamento” de nosso corpo. Uso essa palavra forte para nos lembrar dos efeitos nocivos por exemplo do stress crônico, da ansiedade a níveis patológicos ou da depressão sobre nosso sistema imune.
O que fazer diante dessa realidade?
Sempre achei estranho pessoas que em meio a minha dor e sofrimento vinham com frases do tipo – “isto vai passar, está tudo bem”. Como achar que as coisas iriam ficar bem quando tudo era percebido por mim como muito mal?!!! Demorei alguns anos para entender que posso assumir que não está bem “para mim naquele momento”, mas que posso escolher focar “na metade cheia do copo”.
Em certa medida, o pensamento positivo é visto como uma manifestação de alienação diante da realidade. Na verdade, o pensamento positivo efetivo é aquele que em que pese se reconheça uma realidade negativa, escolhe olhar pontos eventualmente positivos numa situação – como os eventuais aprendizados positivos – e onde se permite visualizar um cenário positivo futuro, mesmo que ele fuja ao senso comum.
Quando atendo pacientes com câncer ou dores crônicas, enfim, com quadros que passam a estar presentes não apenas momentaneamente, mas por muito tempo, convido-os a olhar a “metade cheia do copo” e a encontrar neles mesmos recursos para lidar da melhor forma possível com a “metade vazia do copo”, ou seja, com tudo que foi perdido e precisa ser enlutado num processo de adoecimento desafiador.
-“Se bastasse pensar positivo, pessoas positivas não adoeceriam?”
Não é bem assim, nossa mente positiva que em certa medida pode até distorcer a realidade desconsiderando as reais possibilidades, convive com outras duas faces da mente. A mente negativa, que descrita de forma simples é aquela voz em nós que pensa sempre o pior e nossa mente neutra – a que olha a realidade como se apresenta e permite se prontificar a lidar com ela de forma coerente com nossas reais possibilidades.
Portanto, não é o pensamento positivo em si que cria realidades a meu ver, mas a dança que podemos desenvolver com a vida. Nessa dança, cederei à realidade e reconhecerei minha vulnerabilidade em certos setores onde fui mais atingido e, como bom dançarino, no passo seguinte, faço o contraponto e vou convidando meus pensamentos a ressignificar e encontrar não apenas aprendizados, mas o que há de melhor em mim.
Nessa dança, vamos mirando um canto da sala onde queremos nos sentar nalgum momento para sossegadamente tomar um cálice de champagne e brindar a vida. Pois a vida é uma dança, e não uma subida numa montanha.
Quando olharmos o adoecimento como uma montanha a ser subida, necessariamente nos frustaremos nalgum momento. Mas quando miramos onde queremos chegar, no melhor possível, e dançamos com os acontecimentos, sem nos deixar levar por eles, nesse lugar há chance sim de recuperações pensadas como impossíveis. Sou testemunha de algumas extraordinárias.
O que é possível começa entre as orelhas. Em como somos capazes de nos visualizar no processo de cura. Em como colhemos as dádivas que todo adoecimento nos dá.
Você ou a pessoa que você acompanha sofrendo de algum desequilíbrio do organismo tem uma escolha. Não a de sair pensando positivo todo o tempo – pois nesse lugar não nos permitimos ser humanos e super heróis acabam quebrando.
Oscilar entre a mente positiva, negativa e neutra é da natureza humana. A escolha está em pousar os pensamentos na mente neutra, no observador que somos, e nesse lugar invocar nossos melhores recursos e nossas forças para o pequeno passo que é possível e para o cenário que nossa alma clama por materializar.
Espero que ao ler esse texto você se sinta tocado(a) a ser um observador mais atento a seus pensamentos. E que na eventualidade de se assistir pensando o pior, você possa antes de mais nada ter compaixão consigo mesmo(a), pois é natural à mente que se sente ameaçada, se recolher no medo. Ato contínuo, espero de coração que você convide a vida para uma dança e chame sua mente para olhar algo, pequeno que seja, que traga força e ânimo para dar mais um passo nessa pista de dança.
São dois pra lá. Dois pra cá…
Abraço carinhoso,
Luciane Schütte
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