Traumas secundários e como lidar com o sofrimento
Estamos vivendo tempos desafiadores. Basta acessar as notícias dos jornais para ser impactado. Mesmo que estejamos em nossas casas, aptos a nos proteger e com nosso sustento garantido – a despeito das medidas de isolamento – estamos cercados de sofrimento.
Esse sofrimento pode nos atingir apenas gerando ansiedade ou medo, mas pode ir além. Esses são os casos de traumas secundários, quando o sofrimento do outro me impacta tão profundamente que eu próprio passo a reagir como se o que aconteceu ao outro houvesse acontecido comigo mesmo.
Profissionais que estão na linha de frente, como os profissionais de saúde, estão mais sujeitos a esse impacto e podem passar a desenvolver reações de medo excessivo a ponto de se tornarem inoperantes no trabalho. Essa é uma reação normal a uma situação anormal, mas que pode impactar não apenas a nós mesmos mas aqueles que nos rodeiam.
Você sofreu um trauma secundário?
Em especial quem acompanha um paciente que já sofria de uma doença grave antes mesmo desses acontecimentos da atualidade, ou quem é parente ou amigo próximo de pessoas que pegaram o vírus ou morreram por conta dele, esses são mais propensos a terem convivido de perto com o sofrimento e por conta disso estarem vivendo o que é chamado de trauma vicariante. No limite, basta que sejamos testemunhas de crises humanitárias como a que estamos coletivamente enfrentando para isto ser impactante.
O primeiro passo é reconhecer o quanto o sofrimento da pessoa que sofreu a situação traumática lhe afetou. Observe a presença de pensamentos obsessivos, a perda de sono, a somatização desse trauma e sua manifestação em seu corpo, respiração e emoções.
Uma tentativa simples de lidar com o trauma vicário é buscar dissociar o sofrimento do outro de seu próprio sofrimento. Não significa ser indiferente, mas apenas clarificar uma distinção. Você pode fazer isto simplesmente listando o que é seu e o que é do outro. Pode também optar por se perguntar qual o seu centro e do que precisa de necessidades atendidas para estar no seu centro. Trazer pra você apenas o que você aprende com isto.
Se, ainda assim, sentir que segue impactado(a), procure apoio terapêutico. A própria Medipreço disponibiliza profissionais preparados para esse atendimento online.
Traumas secundários não são menores apenas porque você não os vivenciou diretamente e merecem toda a sua atenção.
Quando impactados por um trauma, apresentamos respostas do inconsciente que às vezes podem parecer desproporcionais às situações. Isso não atinge apenas você, mas quem está por perto também. Esse é o caso por exemplo de um profissional de saúde que tempos atrás acompanhei que lidava todos os dias com pacientes com câncer e desenvolveu uma fixação em seu próprio adoecimento, passando a fazer exames constantes ao menor sinal de desconforto e vivendo grande ansiedade por conta disso.
Você pode estar experimentando o trauma secundário de diversas maneiras. Pode ser desde uma simples dificuldade de relaxar e dormir até situações como desse profissional que descrevi. Não importa a intensidade, você merece encontrar o equilíbrio e viver bem!
Não somos vítimas das circunstâncias conquanto escolhamos nos cuidar.
Espero de coração que você encontre o meio do caminho entre sua empatia e seu desejo de sobreviver e que nesse lugar possa desenvolver relações saudáveis com o outro e , sobretudo, consigo mesmo.
Bj de cotovelo
Luciane
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