É interessante como nós muitas vezes simplesmente aceitamos aquilo que nos é ensinado. Partimos do princípio que esse saber, passado por gerações e pela sociedade, é inatamente correto e deve ser seguido. Afinal, quem sou eu frente a meus pais e uma cultura inteira? Porém, será que não cabe algum tipo de questionamento?
A origem das crenças
Se formos pensar em como nós aprendemos essas “lições de vida”, vemos que elas podem surgir de duas formas principais: Explícita e implicitamente
Os ensinamentos explícitos são simples, são aqueles que são expressos de forma direta. São as lições de nossos pais (“Não confie em estranhos”), os famosos dizeres populares (“Quem canta seus males espanta”), ou até campanhas de conscientização (“Diga não às drogas”).
Já os ensinamentos implícitos são os mais comuns, mesmo que não sejam facilmente percebidos, mas são tão importantes quanto os explícitos. Eles surgem como consequências de atitudes e palavras que escutamos, seja de familiares ou no dia a dia.
Imagine o filho que vê o pai lidando com suas dificuldades sem mostrar fraqueza. Ele pode, então, criar uma crença de que “Um pai deve ser forte e inabalável”. Ou talvez alguém que está doente e lembra de casos de pessoas que pareciam ter doenças incuráveis mas que “enfrentaram” e sobreviveram. Assim, cria a visão de que “não posso me render, tenho de vencer qualquer doença”
O aprendizado incompleto
Esses aprendizados são naturais, fazem parte do nosso desenvolvimento como pessoa e membro de uma sociedade e cultura. Porém, cabe a nós também nos questionar se esses ensinamentos são tão reais quanto aparentam ser.
Veja o exemplo do filho que vê o pai “forte e inabalável”. É possível que ele tenha tido essa percepção apenas porque seu pai estava escondendo o seu estresse e cansaço, e que não estivesse tão inabalado quanto aparentava. Logo, a criança aprendeu uma lição que não era tão realista, pois não contava a história toda. Quem sabe no futuro ela enfrente muitas dificuldades por se ver na mesma posição de seu pai, mas sem se sentir forte e inabalada quanto achou que ele estava.
Ou vamos pensar naquele que viu o caso de sucesso de um doente. De fato, o caso pode ser de sucesso, mas talvez não retrate tudo que aconteceu. Pode ter sido um processo de altos e baixos, com muito sofrimento e decepções, e quem sabe até momentos em que a pessoa se viu sem esperanças. Portanto, a visão de que a pessoa que superou a doença “nunca se rendeu e venceu” talvez não retrate completamente a realidade
Complementando o aprendido
O uso da palavra “complementando” aqui não foi por acaso. O aprendizado que nós tivemos, apesar de não ser perfeito, ainda tem seu valor. Contudo, devemos adaptá-lo à realidade, de forma que ele conte a história completa. O filho, por exemplo, poderia complementar sua crença para “Um pai tem momentos de dificuldades, mas faz o seu melhor”. Ou a pessoa que vê a história do ex-doente poderia pensar que “Superar uma doença não é fácil e envolve bastante sofrimento, porém nem sempre é uma batalha perdida”
Veja que não são pensamentos que anulam o aprendizado original, mas mostram uma visão mais compreensiva do que realmente ocorreu. Assim, quando colocados numa situação similar, seremos capazes de lidar com ela não nos comparando com imaginários impossíveis, mas sim com exemplos reais, compostos de sucessos e fracassos, que ainda assim nos ensinam valiosas lições.
Experimente isso. Busque em si aquelas lições que a vida te ensinou e se pergunte se elas representam tudo que deveriam, ou se não há algo mais a ser acrescentado. Não para corrigí-las, talvez, mas para valorizá-las ainda mais!