Você já se pegou pensando que um simples sinal do seu corpo poderia ser o alerta para uma doença grave?
Foi correndo ao médico e ao realizar os exames, nenhum diagnóstico clínico. Dias depois você identifica outro sintoma, e pensa “agora sim, devo estar com alguma doença”. De novo, nada.
Pois é, a hipocondria é considerada um transtorno de ansiedade na qual a pessoa é preocupada exageradamente com seu estado de saúde. Com base numa interpretação errônea de sintomas ou funções corporais, a pessoa teme sofrer de uma doença grave. E apesar de avaliações e garantias médicas apropriadas, as preocupações não cessam.
A hipocondria, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), é caracterizada pela presença de sintomas físicos que sugerem uma condição médica geral, mas que não são explicados por uma condição clínica, por efeito de substâncias ou por um outro transtorno mental, distinguindo-se dos demais transtornos somatoformes.
Na hipocondria há uma preocupação excessiva com doenças físicas, atenção seletiva corporal, antecipação dos piores desfechos possíveis, avaliação das situações como cada vez mais perigosas, foco nos aspectos situacionais que aumentam sua periculosidade e comportamentos repetidos de verificação da saúde.
E com isso, há a presença do medo patológico. Ou seja, há presença excessiva do medo de morrer. Não há certeza se o medo patológico da morte antecede ou mesmo causa a hipocondria, ou se é uma consequência desta.
Estudos sugerem que o medo patológico da morte está relacionado a dificuldade de internalizar as funções parentais protetoras da infância. Além da incapacidade de simbolizar a morte, que se dá pela dificuldade de expressar em palavras as emoções.
Na hipocondria são encontradas algumas crenças disfuncionais. As crenças disfuncionais são regras globais, rígidas e supergeneralizadas que regem a vida do indivíduo e determinam sua maneira de perceber e entender as pessoas e o mundo. A pessoa considera essas ideias como verdades absolutas ou como as coisas “são”. E com isso reforçam os comportamentos disfuncionais do indivíduo.
Veja as crenças disfuncionais mais comuns em indivíduos com transtorno hipocondríaco:
Exagerar a importância dos pensamentos: é a crença de que a mera presença de um pensamento indica que ele é importante. Encontramos também a fusão do pensamento e da ação, ou seja, acreditar que pensar em um evento inaceitável ou perturbador aumenta as chances de que esse venha a acontecer (pensar em um acidente aumenta as chances de que ele ocorra). E pensar equivale a agir, desejar ou cometer; ou que ter um pensamento inaceitável equivale moralmente a praticá- lo. Determina um excesso de culpa e a realização de rituais de verificação ou outras manobras de neutralização. Exemplos: “Se tenho um caroço pequeno no meu dedo significa que estou com câncer, e se não for verificar o que é, então morrerei.” “Se penso que estou doente/deficiente, então eu realmente estou com alguma doença.”
Preocupação excessiva com o controle dos pensamentos: tendência a supervalorizar a importância de exercer um controle completo sobre pensamentos, imagens e impulsos intrusivos, e a crença de que isso tanto é possível como desejável. Pode se manifestar sob a forma de diferentes crenças errôneas: 1) é importante o registro e a hipervigilância dos eventos mentais; 2) existem consequências morais de não controlar os pensamentos (“Se o pensamento de morte vem a minha cabeça, posso ser condenada por isso!”); 3) existem consequências comportamentais e psicológicas de não controlar os pensamentos (pensar pode induzir a cometer); 4) é possível ter total controle dos pensamentos. Exemplos: “Ter pensamentos indesejáveis significa ter perdido o controle!” “Se eu não conseguir afastar meus pensamentos, é sinal de que estou enlouquecendo!”
Superestimar o perigo e o risco: exagerar a probabilidade ou a gravidade do dano ou do perigo. Envolve dois componentes: superestimar a probabilidade de que um evento catastrófico venha a acontecer e/ou o grau do seu impacto. Um evento altamente improvável, embora de grande impacto, causa eventualmente mais aflição do que outro bem mais provável, mas de impacto menor. Influi ainda no grau de aflição associada a avaliação diminuída dos recursos de que o indivíduo dispõe para seu eventual manejo. É uma dimensão que se sobrepõe de certa forma ao excesso de responsabilidade. Exemplo: “Se eu não fizer exames mensais de checkup então eu ficarei doente e morrerei!”.
Intolerância à incerteza: sabe-se que pacientes com qualquer transtorno de ansiedade têm mais necessidade de ter certeza das informações. Três tipos de crenças relacionam-se com a intolerância à incerteza: 1) a necessidade de ter certeza; 2) a pouca capacidade para lidar com mudanças imprevisíveis; 3) a dificuldade de funcionar adequadamente em situações inevitavelmente ambíguas. Exemplos: “Se eu não tiver certeza absoluta sobre algo, é muito provável que cometa erros…”, “Se eu pensar bastante em um problema, acabarei tendo certeza de qual é a solução correta!”
Perfeccionismo: é a tendência a acreditar que existe uma solução perfeita para cada problema, que fazer alguma coisa perfeita (livre de erros) não só é possível, como necessário e que mesmo erros pequenos têm sérias consequências. As metas exigidas não são apenas elevadas, como também inatingíveis muitas vezes. Crenças típicas: ” Devo me esforçar até que minha tarefa saia perfeita”; ” Falhar em parte é tão ruim quanto falhar completamente”
Você se identificou ou identifica alguém que tenha estas características?
É indispensável que o diagnóstico de hipocondria seja realizado por profissionais capacitados para tal, como psicólogo ou psiquiatra. E o tratamento eficaz deste e de qualquer outro transtorno de ansiedade é a psicoterapia e a medicação. Caso você tenha se reconhecido nos sintomas descritos neste artigo, procure, o quanto antes, por um profissional para lhe ajudar a aliviar o seu sofrimento.
Autora da Publicação:
Psicóloga Laura Tomasini Potrich
CRPRS 07/22140
@tratandosuaansiedade
www.laurapotrich.com.br